sexta-feira, 27 de agosto de 2010

CENTRO ESPÍRITA - a responsabilidade de cada um

 Agora que o período de férias do mês de Agosto está praticamente terminado, um pouco por todo o lado, prepara-se o reínicio das actividades nos Centros Espíritas, onde a ajuda fraterna e o amor ao próximo, encarnados e desencarnados, volta a assumir um dos principais objectivos de qualquer trabalhador da seara espírita.


Reconstitue-se o grupo de trabalho espírita, composto por seres imperfeitos, cada qual com a sua individualidade, onde o ego de cada um vai assumindo o comando da vontade e dificultando a nossa transformação moral.
E o esforço de cada um, na manutenção de um clima harmonioso, solidário, fraterno e responsável, em cada uma das instituições espíritas que frequentamos, é algo que se impõe, conhecedores de que a tarefa não é fácil e que, em cada esquina, aguarda-nos um obstáculo a superar.
A doutrina espírita, inquestionavelmente alicerçada na moral cristã, ensina-nos a “Fazer aos outros aquilo que queremos que nos façam”, o que implica uma redobrada tolerância para com as imperfeições de cada um dos nossos irmãos, sem prescindir na exigida disciplina que se torna imprescindível existir no funcionamento do grupo de trabalho espírita.


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ESPIRITISMO E ECOLOGIA

“A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele a emprega no supérfluo o que poderia ser empregado no necessário”. (O Livro dos Espíritos, capítulo V, Lei de Conservação)
Cláudia Santos
Ao se deparar com o tema Ecologia e Espiritismo, é muito provável que, em um primeiro momento, muitos de nós nos perguntemos o que um teria a ver com o outro. De fato, logo de cara, eles não aparentam ser assuntos correlatos. Mas, analisando a origem de ambos, vemos que, assim como Ernst Haeckel, cientista alemão quem primeiro usou o termo Ecologia e a definiu como “o estudo da casa ou do lugar onde vivemos”, seu contemporâneo Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, nos trouxe respostas, através dos espíritos, sobre as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem e o quanto um depende do outro. A partir daí, está dada a resposta: a Ecologia anda, sim, de braços dados com a Doutrina de Kardec.
“Assim, como o conceito de Espiritismo demandou tempo para ser incorporado, o mesmo ocorreu com a Ecologia, do ponto de vista científico e filosófico. Há coincidências entre Espiritismo e Ecologia. O primeiro tem uma visão sistêmica. Por exemplo, demonstra-se que nas diferentes moradas do Pai existe relação de interação constante entre os mundos, uma conexão entre diferentes fenômenos. Desdobra-se um olhar que vai além e que explica a teia, como tudo está conectado. Sabemos que estamos inseridos num contexto. Que cada um de nós tem companhias nos planos denso e espiritual e vai tendo uma série de experiências. Sentimo-nos mergulhados em algo maior e estamos misturados a outros. A visão ecológico-sistêmica tem a mesma pretensão”, analisa o carioca André Trigueiro, 41, apresentador do programa Cidades e Soluções, transmitido aos domingos, às 21h30, pela Globonews e Canal Futura, e que acaba de completar um ano no ar.
Na pergunta 705 de O Livro dos Espíritos, no capítulo que versa sobre a Lei de Conservação, Kardec, ao questionar a espiritualidade “por que nem sempre a terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?”, recebe uma resposta que exemplifica bem o que vivemos hoje: “É que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas vezes, também, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se” (...).

Com esta resposta, a Espiritualidade nos mostra que o materialismo exarcebado, que o “ter por ter”, cada vez mais presente em um modelo de desenvolvimento econômico que promove a produção de bens de consumo sempre mais caros e sofisticados, precisa ser revisto. O homem começa a percerber hoje, dados os alardes sobre o avanço da degradação do planeta, que não há como haver uma produção ilimitada deles na biosfera, que é finita e limitada. Esta produção e consumo exagerados esbarram na Ecologia. “O problema é que em uma sociedade de consumo, como a nossa, nenhum de nós se contenta apenas com o necessário”, afirma Trigueiro. “A publicidade se encarrega de despertar apetites vorazes de consumo do que não é necessário, daquilo que é supérfluo, descartável e inessencial, renovando a cada nova campanha a promessa de felicidade que advém da posse de mais um objeto”, analisa.
Relação com o ambiente comprometida (retranca)
Você já parou para pensar como anda nossa relação com o ambiente em que vivemos? E o que temos a ver com a emissão de carbono na atmosfera, o consequente aquecimento global, a produção exagerada de lixo e um possível esgotamento dos recursos naturais no nosso planeta? Acha que não tem nada a ver com isso?
Que até faz algo, mas que sozinho não pode mudar o mundo? A verdade é que cada um de nós é responsável por tudo isso que está aí. E se não frearmos o modelo de desenvolvimento que temos adotado acabaremos padecendo junto a Terra. Assim, não importa se suas ações podem parecer pequenas diante do universo, mas se elas acontecerem, irão influenciar as do seu vizinho e muito provavelmente de toda uma sociedade. 
É preciso que nos lembremos que a questão ambiental está muito fortemente associada a modelos de desenvolvimento, a um projeto de civilização. O meio ambiente somos nós, o meio que nos cerca e as relações que estabelecemos com ele. Nossa qualidade de vida depende da forma como estabelecemos essa relação. Ele transcende ao gueto da fauna, flora e preservação. É muito mais que isso.

Trigueiro, jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação (Editora Globo, 2005) e coordenador editorial e um dos autores do livro Meio Ambiente no século XXI (Editora Sextante, 2003), acredita que é urgente que o Movimento Espírita absorva e contextualize, à luz da Doutrina, os sucessivos relatórios científicos que denunciam a destruição sem precedentes dos recursos naturais não renováveis, no maior desastre ecológico de origem antrópica da história do planeta. 

“Os atuais meios de produção e consumo precipitaram a humanidade na direção de um impasse civilizatório, onde a maximização dos lucros tem justificado o uso insustentável dos mananciais de água doce, a desertificação do solo, o aquecimento global, a monumental produção de lixo, entre outros efeitos colaterais de um modelo de desenvolvimento ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”, avalia.

Segundo Trigueiro, para nós, espíritas, é fundamental que o alerta contra o consumismo seja entendido como uma dupla proteção: ao meio ambiente, que não suporta as crescentes demandas de matéria-prima e energia da sociedade de consumo, onde a natureza é vista como um grande e inesgotável supermercado, e ao nosso espírito imortal, já que, de acordo com a Doutrina Espírita, uma das características predominantes dos mundos inferiores da Criação é justamente a atração pela matéria. “Nesse sentido, não há distinção entre consumismo e materialismo e nossa invigilância poderá custar caro ao projeto evolutivo que desejamos encetar”, alerta.

De acordo com o jornalista, uma das mais respeitadas referências em sustentabilidade no País, essa questão é tão crucial para o Espiritismo, que na pergunta 799 de O Livro dos Espíritos, quando Kardec pergunta “de que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?”, a resposta é taxativa: “Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade.(...)”. 

“Uma das mais prestigiadas organizações não-governamentais do mundo, o Worldwatch Institute, com sede em Washington (EUA), divulga anualmente o relatório ‘Estado do Mundo’, uma grande compilação de dados e estudos científicos que revelam os estragos causados pelo atual modelo de desenvolvimento. Na última versão do relatório, referente a 2004, afirma-se que o consumismo desenfreado é a maior ameaça à humanidade. Os pesquisadores do Worldwatch denunciam que altos níveis de obesidade e dívidas pessoais, menos tempo livre e meio ambiente danificado são sinais de que o consumo excessivo está diminuindo a qualidade de vida das pessoas”, informa Trigueiro, que, abaixo, fala um pouco mais sobre ele próprio, nossa relação com o meio ambiente e a Doutrina Espírita.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Discurso de Victor Hugo junto ao Túmulo de uma Jovem

ALLAN KARDEC

Embora esta tocante oração fúnebre tenha sido publicada por diversos jornais, encontra lugar igualmente nesta Revista, em razão da natureza dos pensamentos que encerra, cujo alcance todos poderão compreender. O jornal do qual a tomamos dá conta da cerimônia fúnebre nos seguintes termos: 

“Uma triste cerimônia reunia, quinta-feira última, uma multidão dolorosamente comovida no cemitério dos independentes, em Guernesey. Inumavam uma jovem, que a morte viera surpreender em meio às alegrias da família, e cuja irmã se casara dias antes. Era uma moçoila feliz, a quem um dos filhos do grande poeta, Sr. François Hugo, havia dedicado o décimo quarto volume de sua tradução de Shakespeare; ela morreu na véspera do lançamento desse volume.

“Como acabamos de dizer, a assistência era numerosa nesses funerais, numerosa e simpática, e é com viva emoção, com lágrimas que a amizade derramava, que ela ouviu as palavras de adeus, pronunciadas sobre esse túmulo tão prematuramente aberto, pelo ilustre exilado de Guernesey, pelo próprio Victor Hugo.

“Eis o discurso pronunciado pelo poeta:

domingo, 22 de agosto de 2010

O Eu Real: Além das aparências

(Experiências Fora do Corpo e Lembranças Extrafísicas)

Você, que desceu à Terra para mais uma experiência no corpo, jamais deixou de ser um cidadão do universo. Sua verdadeira natureza não é desse ou daquele lugar, mas do infinito. Sua casa é no coração do Todo e tudo que vive é seu próximo.

Você pode lembrar-se de muitas vidas, em diversos lugares, mas você é uma consciência espiritual, que não nasce nem morre, só entra e sai dos corpos perecíveis.

Você tem cara de gente, mas o seu rosto espiritual tem a cara da luz.

Você deita o corpo físico no leito, diariamente, mas não fica dentro dele, mesmo que nem saiba disso. Enquanto a natureza faz o seu trabalho de regeneração do veículo denso, você, o eu real, se desprende para fora dele e viaja com o corpo sutil pelos planos extrafísicos, encontra seus amigos astrais e realiza atividades de estudo e trabalho, naquelas moradas além da Terra. E, quando volta ao corpo, nem se lembra disso.
No entanto, dentro ou fora do corpo, é você mesmo o tempo todo.

Quando você rememora vivências de outras vidas na carne, isso ainda é um evento menor. Na verdade, você precisa se lembrar mesmo é de algo a mais, além das lembranças de vidas passadas - muitas vezes, cheias de condicionamentos limitantes e coisas mal-resolvidas. Você precisa se lembrar das cidades astrais e dos sítios extrafísicos, para perceber que veio de outros planos e que é um SER DE LUZ, um viajante eterno, e que nada pode limitar o seu progresso ou condicioná-lo a este ou àquele corpo - ou àquela vida ou situação específica.

Você carrega o fogo estelar em seu peito. Você não é branco, negro, amarelo ou vermelho.

Você é da raça da LUZ! Você é parceiro das estrelas, sempre foi...
No momento, você está hospedado num corpo denso emprestado pela Mãe Terra. Então, agradeça-a pela oportunidade de aprender algo bom enquanto na carne. E trate corretamente o veículo de argila que Ela lhe emprestou. Tenha respeito e admiração por quem o recebe e o ajuda em sua evolução.
Porém, jamais se esqueça de sua verdadeira natureza espiritual.

Mantenha os pés no chão, mas permaneça ligado ao Alto, de onde vem suas melhores inspirações. Respeite o caminho terrestre, por onde for, mas não perca o brilho estelar dos seus olhos, nem deixe as coisas do mundo bloquearem sua luz.
Da mesma forma que o barco pode entrar no rio, mas o rio não pode entrar nele - pois afundaria -, entre no mundo, mas não deixe as coisas do mundo afundarem o seu barco espiritual e afogarem a sua lucidez. Viva o que tem que ser vivido, mas sem perder o discernimento e a luz do espírito por causa disso.

Você é mais do que imagina. E, se concentrar melhor sua atenção, desbloqueará diversos de seus potencias adormecidos. Se resolver melhorar, melhorará!
Mas nada acontece da noite para o dia. Tudo demanda esforço e paciência, e a ansiedade com qualquer resultado a curto prazo, com certeza, envenenará seus melhores propósitos. Apenas estude e trabalhe da melhor forma possível, sem preocupações com resultados ou condições. O seu esforço correto o levará a prestar atenção em algo a mais, na vida e em você mesmo. E isso é um tipo de melhoria.

Você é um cidadão do universo. Sempre foi, e sempre será...
Lembre-se disso!

Paz e Luz.

Wagner Borges é pesquisador,
conferencista e instrutor de cursos de Projeciologia
e autor dos livros Viagem Espiritual 1, 2 e 3 entre outros.



Fonte: 
http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=10120

terça-feira, 17 de agosto de 2010

ESPIRITISMO - FILME - MINHA VIDA NA OUTRA VIDA - COMENTÁRIO - DRA MARLENE NOBRE



EXPRESSÃO FILOSÓFICA DO ESPIRITISMO

Por Deolindo Amorim*

O lastro experimental, com a apresentação de fatos comprobatórios, ainda é uma necessidade, pois estamos muito longe, por enquanto, daquele estágio evolutivo em que a mediunidade ficará no puro domínio da intuição , como diz a própria Doutrina. Será uma expressão muito elevada em função, porém do tempo e do melhoramento espiritual do ser humano. Claro que a prática mediúnica, como geralmente falamos, precisa de condições básicas: honestidade pessoal, perseverança, lucidez e prudência do verdadeiro espírito científico. A mediunidade exercitada a esmo, embora bem intencionada, como acontece muitas vezes, tem os seus riscos.

Então, sem perder de vista o valor do estudo filosófico, a que Kardec atribui influência decisiva, é lógico entender que o aspecto mediúnico sempre teve e tem o seu momento de necessidade e relevância, seja pelo consolo das mensagens, seja pelos elementos de estudo e reflexões que oferece. Mas o Espiritismo não se contém todo ele no campo mediúnico, conquanto este lhe tenha servido de ponto de partida, como se sabe. O fenômeno por si só não nos levaria a conseqüências profundas, ou seria apenas objeto de observação ou motivo de deslumbramento, sem a formulação filosófica. Justamente por isso - repetimos kardec - "a força do Espiritismo está em sua filosofia". E por que não está no fato mediúnico? Porque o fato prova e convence objetivamente, não há dúvida, porém não elucida os problemas mais graves de nossa vida, por si mesmo, se não tomar a direção filosófica que conduz à inquirição das causas, dos porquês e das conseqüências.

A comunicação dos espíritos demonstra praticamente a sobrevivência da alma "após a morte". É o elemento básico. Mas é preciso partir daí para as indagações que compreendem esencialmente o destino humano e as conseqüências morais do Espiritismo. A esta altura já é esfera da filosofia e a força do Espiritismo - não faz mal insistir neste ponto - está exatamente nesse corpo de princípios em cuja homogeneidade e coerência e encontramos respostas às mais complexas e momentosas questões de nossa vida: a existência de Deus, a justiça divina e as desigualdades morais, intelectuais e sociais, livre arbítrio e determinismo, a reparação do mal pelas provas, o reajuste de compromissos do passado através das experiências reencamatórias. São temas de reflexão filosófica. Entretanto, a Doutrina estaria incompleta e não decorressem daí as conseqüências morais com que nos defrontamos a cada passo.

Quem, por exemplo, gosta apenas de ver sessões mediúnicas, porque acha interessante ouvir os conselhos dos espíritos ou conversar com os médiuns, mas não vai além desse hábito, que se transforma em rotina com o decorrer do tempo, naturalmente não tem uma visão global do ensino Espírita. Conhece o Espiritismo apenas pela parte fenomênica, que é muito rica de lições e sempre temo que oferecer para estudo e meditação, porém não abre horizonte mais amplo a respeito das leis e causas, a que o fenômeno está sujeito. Há pessoas, por exemplo, que se interessam muito pelo lado experimental do Espiritismo e fazem realmente estudos sérios, mas encaram o fenômeno do intercâmbio entre dois mundos com a mesma neutralidade ou frieza com que os especialistas lidam com os fenômenos da Física ou da Eletrônica, e assim, por diante. A preocupação é exclusivamente com o fenômeno puro e simples. E daí?... Que resulta de tudo isso? Sim, o fenômeno da comunicação entre vivos e mortos é neutro até certo ponto, uma vez que sempre ocorreu no mundo, muito antes das civilizações e, portanto, do Espiritismo. E pode ser observado e registrado em ambientes não espíritas como também pode ser discutido à luz de critérios diversos, nas áreas da Parapsicologia, Psiquiatria, Antropologia, etc., sem nenhuma cogitação quanto às causas e conseqüências. Se o psiquiatra se volta para a procura da anomalidade, já o antropólogo vê o fenômeno dentro de um contexto cultural sem implicações de ordem transcendental, como se costuma dizer.

Quando, porém, o fenômeno está situado no contexto espírita, já não é tão neutro, porque assume um valor moral muito especial e, por isso mesmo, não pode ser considerado indiferentemente, como se estivesse em laboratório de Física ou Química. O fato de o espírito entrar em comunicação com o nosso mundo pela via mediúnica já pressupõe muita responsabilidade para o médium e também para quantos tenham de lidar com esse tipo de trabalho. Há necessidade, portanto, de um preparo moral indispensável. Já se vê que a situação, agora, é bem diferente. E porque, finalmente, o Espiritismo engloba o fato mediúnico numa contextura filosófica de conseqüências tão acentuadas? Exatamente porque a verificação de que os mortos continuam vivos e vêm até nós, identificando-se, interferindo-se, interferindo em nossos atos, "chorando as suas mágoas" ou trazendo alegria e esperança, confirma a tese capital de que a vida continua no tempo e no espaço. Partimos daí, desse princípio essencial, para a especulação filosófica das origens e do chamado sobrenatural. O próprio impulso da sede de saber nos leva a propor questões dessa natureza: que significa esse intercâmbio em nossa vida? Qual o ponto inicial, a causa primária dessa força ou inteligência aparentemente misteriosa? Que benefício poderá esse tipo de conhecimento trazer para a humanidade? Começamos a sentir o conteúdo ético e filosófico do Espiritismo desde o momento em que lhe avaliamos a profundidade e a integridade como Doutrina capaz de corresponder às nossas preocupações com o desconhecido e o nosso destino.

Mas a especulação filosófica, embora necessária e valiosa, ainda não é suficiente para atender satisfatoriamente às necessidades do ser humano quando desperta para os problemas espirituais; torna-se necessário, senão indispensável, além deste passo no conhecimento, procurar as conseqüências dos princípios espíritas na vivência individual e coletiva. E aí, principalmente, que se sente força do Espiritismo em sua filosofia.

Harmonia - Revista Espírita nº 64 - Fevereiro/2000 
* último texto produzido em vida



Fonte: http://oblogdosespiritas.blogspot.com/

domingo, 1 de agosto de 2010

Obras Póstumas, um livro esquecido




Cento e vinte anos após sua publicação,
soa novamente a hora de o divulgarmos amplamente, para que seus preciosos
textos estejam conosco a nos orientar
o procedimento e os passos no bem

 
Eis um livro muito especial. Esquecido, infelizmente! Convido o leitor a buscar seu exemplar na estante de sua biblioteca para folhear a obra. Sugiro iniciar pelo índice para inteirar-se do conteúdo do livro.  
Contém ele duas partes. Na primeira delas, estudos de Kardec sobre empolgantes temas e na segunda parte anotações íntimas, detalhes da vida particular do Codificador, comunicações dos Espíritos diretamente ligados à tarefa da Codificação Espírita e a preciosidade dos textos Projeto 1868,Constituição do Espiritismo e Credo Espírita.  
Como se sabe, o livro foi publicado em janeiro de 1890, após a desencarnação de Allan Kardec, contendo anotações, textos e estudos encontrados em seu gabinete de trabalho.  
Apesar da riqueza dos estudos contidos na primeira parte da obra, parece-nos que a segunda parte do livro deva ser consultada e amplamente divulgada entre todos nós, atuais espíritas do Brasil e do mundo, principalmente a partir do texto Fora da Caridade Não Há Salvação. Referido texto dá início a uma sequência maravilhosa de reflexões, que se distribuem nos capítulos Projeto 1868, Constituição do Espiritismo e Credo Espírita, como já citado acima.  
A obra ainda contém a biografia de Kardec, o discurso de Flammarion por ocasião do sepultamento do Codificador e os preciosos estudos intituladosTeoria da Beleza, A música celeste, Música Espírita, O Caminho da Vida e As cinco alternativas da Humanidade, entre outros.  
“Os pobres jamais foram rejeitados em minha casa, ou
tratados com dureza”
 
Quando volto a reler tais preciosidades, fico a pensar: Por que nos esquecemos delas? Seria leviandade nossa? Seria desprezo ou indiferença? O que nos leva a desprezar tão valiosos escritos e tão importantes reflexões de Kardec?  
Digo isto porque se trata de textos tão importantes que deveriam constituir material de reflexão diária para os estudiosos do Espiritismo.        
Para mostrar a importância do conteúdo desse livro, infelizmente pouco conhecido dos espíritas, seleciono para o leitor alguns pequenos trechos.  
Ao final das pequenas transcrições, inseri outros comentários: 
a) “Estes princípios, para mim, não são apenas uma teoria, eu os coloco em prática; faço o bem tanto quanto o permite a minha posição; presto serviço quando posso; os pobres jamais foram rejeitados em minha casa, ou tratados com dureza; (...)  Continuarei, pois, a fazer todo o bem que puder, mesmo aos meus inimigos, porque o ódio não me cega; e eu lhes estenderia sempre a mão para tirá-los de um precipício, se a ocasião disso se apresentasse. Eis como entendo a caridade cristã; compreendo uma religião que nos ordena retribuir o mal com o bem, com mais forte razão restituir o bem pelo bem. Mas não compreenderia jamais a que nos prescrevesse retribuir o mal com o mal.” – do capítulo Fora da Caridade não há salvação.  
“A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e
todos os deveres sociais”
 
b) “(...) Os homens não podem ser felizes se não vivem em paz, quer dizer, se não estão animados de um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocos, em uma palavra, enquanto procurarem se esmagar uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; mas supõem a abnegação; ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; portanto, com seus vícios nada de verdadeira fraternidade, partindo, da igualdade e da liberdade, porque o egoísta e o orgulhoso querem tudo para eles. Estarão sempre aí os vermes roedores de todas as instituições progressistas; enquanto eles reinarem, os sistemas sociais mais generosos, mais sabiamente combinados, desabarão sob os seus golpes. (...)” – do capítulo O egoísmo e o orgulho – suas causas, seus efeitos e os meios de destruí-los.  
c) “(...) Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade, trabalhai, antes de tudo, na base do edifício, antes de querer coroar-lhe a cumeeira; dai-lhe por base a fraternidade em sua mais pura acepção; mas, para isso, não basta decretá-la e inscrevê-la sobre uma bandeira; é preciso que ela esteja no coração e não se muda o coração dos homens com decretos. Do mesmo modo que, para fazer um campo frutificar, é preciso arrancar-lhe as pedras e os espinheiros, trabalhai sem descanso para extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, porque aí está a fonte de todo mal, o obstáculo real ao reino do bem; destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, até os últimos vestígios, os tempos de barbárie e de privilégios, e todas as causas que mantêm e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, que se recebe, por assim dizer, desde a meninice e que se aspira por todos os poros na atmosfera social; só então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade; então, também, se estabelecerão por si mesmos, sem abalos e sem perigo, os princípios complementares da igualdade e da liberdade. (...)” – do capítulo Liberdade, Igualdade, Fraternidade. 
“O anátema secreto tornar-se-á oficial, e os Espíritas serão rejeitados pela Igreja romana” 
d) O clero clamará heresia, porque verá que nele atacas firmemente as penas eternas e outros pontos sobre os quais apoia a sua influência e o seu crédito, clamará tanto  mais que se sentirá muito mais ferido do que pela publicação deO Livro dos Espíritos, do qual a rigor, podia aceitar os princípios dados; mas, no presente, vais entrar num novo caminho onde ele não poderá te seguir. O anátema secreto tornar-se-á oficial, e os espíritas serão rejeitados junto aos judeus e aos pagãos pela Igreja romana. Em compensação, os espíritas verão seu número aumentar, em razão dessa espécie de perseguição, sobretudo vendo os padres acusarem de obra absolutamente demoníaca uma Doutrina cuja moralidade brilhará como um raio de Sol pela publicação mesma de teu novo livro, e daqueles que o seguirão. Eis que a hora se aproxima em que será preciso declarar abertamente o Espiritismo por aquilo que ele é, e mostrar a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo; a hora se aproxima em que, diante do céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como a única tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana.” – Trecho de uma  mensagem mediúnica obtida em Ségur, em 9 de agosto de 1863, sobre as consequências da publicação d´O Evangelho segundo o Espiritismo. 
Percebe-se, com clareza, que referidos textos – entre outros – precisam ser copiados, distribuídos, lidos e estudados em conjunto por todos nós em nossas reuniões públicas ou íntimas de estudos, em nossas instituições, pela preciosidade de suas considerações. Pela nossa imperfeição humana, estamos muitas vezes esquecidos da caridade nos relacionamentos, nos julgamentos, ou nos iludimos com tolas vaidades, colocando a perder esforços de décadas daqueles que ergueram ou fundaram as instituições a que atualmente nos entregamos. 
Por outro lado, as anotações pessoais do Codificador, seus pensamentos íntimos (como o texto Fora da Caridade não há salvação), suas lutas e dificuldades precisam novamente ser colocados à nossa visão para refletirmos no tempo que perdemos com picuinhas e assuntos sem importância, retardando esforços no bem, onde deveríamos concentrar mais nossas atenções... 
Parece-nos que não podemos deixar tal obra no esquecimento. Cento e vinte anos depois de sua publicação, soa novamente a hora de a divulgarmos amplamente, para que seus preciosos textos estejam conosco a nos orientar o procedimento, o comportamento, os passos no bem.

ORSON PETER CARRARA


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