quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A procura do homem


Uma frase, apenas uma frase …

Mas foi esta frase que me fez pensar e escrever este humilde texto.

Uma amiga, jazia na cama do hospital, lutando para vencer o cancro que a arrebatava aos poucos, deste plano existencial. Passava a maior parte do tempo numa inconsciência de morfina ou “viajando”, e só de vez em quando abria os olhos e balbuciava algumas palavras; “tudo tão diferente do que tinha imaginado”; ou aquela que me deixou a matutar no assunto: “não procures nada” – respondo “ como? Fazendo, sabe-se lá que esforço, consegue dizer “ não procures nada fora…” fiquei de novo expectante e sem perceber o alcance do conselho. Sábio conselho se revelou quando, com respiração ofegante, num esforço titânico me diz “ não procures nada fora de ti, está tudo dentro de ti”.

Obrigada por me teres deixada tão precioso presente neste momento de dizer “até logo”.

E a final, que procuramos todos fora de nós; que procura o homem, desde tempos imemoriais, que procura desde que nasce, e ás vezes até que parte e quantas vezes depois da partida? Felizes daqueles que encontraram a resposta. Por isso, porque caminhamos lado a lado, partilho convosco esta reflexão.

O homem procura, antes de tudo, sobreviver, satisfazer suas necessidades básicas: comer, dormir, agasalhar-se, acasalar, e continua procurando…constrói casas, família, cidades, e continua faltando algo. Acumula riqueza, conhecimentos e continua procurando… E nessa busca gasta suas forças e perde sua saúde e fica mais infeliz.

Afinal que procura ele? A felicidade, dirão, mas de onde lhe virá essa felicidade, onde se esconderá o segredo?

Das brumas do tempo chegam vozes que lhe sussurram: - Conhece-te a ti mesmo –. E o homem procura o psicólogo, o mestre e o guru, o sábio e o vidente, e continua infeliz e continua a procurar…

Nesta luta vai ficando cansado, revoltado, zangado com a sociedade, com os outros homens, com as leis e os governos, e entra em stress, em depressão e agrava sua já débil saúde, e quase desiste da busca; Quem lhe dera viver longe deste mundo cruel! exclama a vitima em que se tornou. Mas é o mundo que ele criou… E se a culpa é do mundo, porque não é feliz o homem que vive isolado? Das nossas histórias de meninos lembramos que todo o náufrago chorava por se ver apartado da civilização e como ansiava e sonhava em retornar a esse mundo que ele achara maquiavélico e injusto…

Ah! Bastariam três coisas para ser feliz: saúde, riqueza e poder, mas ironia das ironias, parece ficar sempre por realizar um desses três desejos que o transformariam num ser pleno e realizado… e o desejo leva à desilusão, que o mergulha na angústia, que o transporta ao desespero e à morte.

Mas essa grande mestre chamada dor, aos poucos, vira o homem para si: primeiro revolta-se e quer fugir dos outros que têm tudo a que ele se julga com direito, depois o desespero de não ter, depois a doença ou o cansaço… e mergulha em si.

E descobre o que sempre lá esteve …Como pudera ser tão tolo, buscar fora o que estava dentro... um outro eu, que sabia, que lhe falava, que o orientava e que ele tinha ignorado até então.

Aos poucos essa voz lhe vai trazendo tranquilidade e até alguma paz. O homem descobre-se a si mesmo. E vivendo consigo recupera a saúde, a energia, a vontade, e entra na luta de novo, recuperado, renascido…
                                                                                                                                                                                         Será este o segredo daqueles que parecem ter tudo que o mundo lhe recusou?

Depressa volta a desiludir-se: O homem aprendeu a ser ele, aprendeu a viver consigo mas ainda não é feliz.

Talvez os outros homens lhe possam ensinar a seguir a voz, talvez os outros tenham uma voz mais sábia, e estejam na posse do conhecimento

 E esses homens lhe falam de outros homens que encontraram o segredo e transmitem-lhe ensinamentos desses homens e ele procura mais e mais… e o homem aprende a viver com os outros, e descobre que faz parte do universo, e que os outros homens fazem parte desse mesmo universo, e que são como células de um organismo vivo, e procura mais e mais… mas agora sabe o que procurar.

Nessa busca incessante o homem conhecia o corpo depois descobre a Alma e agora sabe do Espírito. E a querer mais continua, mas a luta deu lugar a uma doce caminhada, o homem só e egoísta caminha, agora, lado a lado com milhões de irmãos, a estrada pedregosa atapetou-se de verde, um sentimento de paz e tranquilidade permeiam seu sentir, seu rosto de pedra humanizou-se e rasgou-se num sorriso, seu olhar, de besta feroz, tem agora a doçura de uns olhos infantis, seu coração bate em uníssono com o pulsar do Cosmo.

O homem encontrou o que procurava?

   Ainda não, mas sabe o que procura, sabe onde encontrar e sabe que vai a caminho… de Casa, do Pai.

        Maria

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