domingo, 13 de junho de 2010

A doutrinação e seus métodos

Alguns espíritas, diz Herculano Pires, pretendem suprimir a doutrinação, alegando que esta é realizada com mais eficiência pelos bons Espíritos no plano espiritual. Essa é uma prova de ignorância generalizada da Doutrina no próprio meio espírita, pois nela tudo se define em termos de relação e evolução. Os Espíritos sofredores permanecem apegados à matéria e à vida terrena, razão pela qual os Protectores Espirituais têm dificuldade de comunicar-se com eles. O seu envolvimento com os fluidos e as emanações ectoplásmicas próprias da sessão mediúnica é-lhes, portanto, necessário, o que evidencia que a reunião mediúnica e a doutrinação humana dos desencarnados são uma necessidade.
A morte não tem o poder de transformar ninguém. Cada Espírito, ao desencarnar, leva consigo as suas virtudes e defeitos, continuando na vida espiritual a ser o que era quando ligado ao corpo, com os seus vícios e condicionamentos materiais, dos quais se liberta pouco a pouco. Além disso, confundido pelas lições recebidas das religiões tradicionais, o Espírito não encontra no Além aquilo que esperava: nem céu, nem inferno, muito menos o repouso até ao juízo final. Ao contrário, ele encontra a dura realidade espiritual, fundamentada na existência da lei de causa e efeito, onde cada qual se mostra como é, sem disfarces, falsas aparências ou o verniz social.
Doutrinar Espíritos não é, porém, tarefa fácil, pois exige conhecimentos doutrinários bastante desenvolvidos e senso psicológico para que o doutrinador possa captar com rapidez a verdadeira feição moral do caso que defronta e, em consequência, encaminhar a doutrinação no devido rumo. É necessário ainda ao doutrinador possuir paciência e bondade, humildade e tolerância, porque somente com auxílio dessas virtudes poderá enfrentar os casos mais difíceis em que se manifestam Espíritos maldosos, zombeteiros ou empedernidos. A sua eficiência depende sempre da sua humildade, que lhe permite compreender a necessidade de ser auxiliado pelos bons Espíritos. O doutrinador que não compreende esse princípio precisa de doutrinação e esclarecimento, para alijar do seu espírito a vaidade e a pretensão. Reportando-se aos casos em que os Espíritos comunicantes se mostram demasiado renitentes, a ponto de perturbar os trabalhos, sugere Herculano Pires que aí o melhor a fazer é chamar o médium a si mesmo, fazendo-o desligar-se do Espírito perturbador. O episódio servirá ainda para reforçar a autoconfiança do médium, demonstrando-lhe que pode interromper por sua vontade as comunicações perturbadoras. O Espírito geralmente voltará em outras sessões, mas então já tocado pelo efeito da doutrinação e desiludido de sua pretensão de dominar o ambiente.
Hermínio Miranda afirma que, no início, os Espíritos em estado de perturbação não estão em condições psicológicas adequadas à pregação doutrinária. Necessitam, então, de primeiros socorros, de quem os ouça com paciência e tolerância. “A doutrinação virá no momento oportuno e, antes que o doutrinador possa dedicar-se a este aspecto específico, ele deve estar preparado para discutir o problema pessoal do espírito. Diversos autores têm chamado a atenção para os hábitos, os vícios e as práticas que precisam ser erradicados das sessões mediúnicas. Edgard Armond considera absolutamente inconvenientes as atitudes seguintes: exigir o nome do Espírito comunicante; crer cegamente no que diz o Espírito; o misticismo exagerado; Há doutrinadores que entendem que acordar de súbito o Espírito comunicante para a realidade seja um benefício e, por isso, costumam informá-los, abruptamente, que já estão mortos. O resultado dessa atitude é, amiúde, a loucura que se instala nos infelizes que desconheciam a própria morte. Herculano Pires, em apoio a essa ideia, observa que, se o doutrinador disser cruamente a esses Espíritos que eles já morreram, mais assustados e confusos ficarão. Devemos, pois, tratar o Espírito comunicante como se ele estivesse doente e não desencarnado. Mudando a sua situação mental e emocional, em poucos instantes ele mesmo perceberá que já passou pelo transe da morte e que se encontra amparado por familiares e amigos que procuram ajudá-lo. Divaldo Franco concorda: dizer simplesmente que o comunicante já desencarnou, os Guias também poderiam fazê-lo. Deve-se entrar em contacto com a Entidade, participar da sua dor, consolá-la e, na oportunidade que se faça lógica e própria, esclarecer-lhe que já ocorreu o fenómeno da morte...”

Excertos dum texto de Astolfo Olegário de Oliveira Filho (1) e debatido na reunião da AELA, na 3ª feira, dia 8 de Junho de 2010
(1) Director da revista semanal electrónica “O Consolador”(*) e editor do jornal mensal “O Imortal”(*)
(*)Brasil

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