segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Prece e Meditação

Prece e Meditação
Sua importância na vida diária

1. Prece e Meditação; 2. Importância da Prece; 3. Forma da Prece; 4. Experiência pessoal


Introdução


Propus-me neste trabalho estudar a Prece. Aprofundá-la, analisá-la e praticá-la. Foquei-me sobretudo no seu aspecto individual; a prece feita em recolhimento, que nos permite aproximar de Deus e senti-Lo; dentro das nossas possibilidades. Abstraí-me da palavra formulada, apesar da sua importância, e procurei dar mais atenção ao que se sente quando oramos; privilegiando o contacto silencioso, sem necessidade de arquitetar qualquer frase ou pensamento que não um simples "Pai, estou aqui!".

Orar por alguém ou pelo socorro de nossas aflições é sem dúvida de grande proveito, quer para nós quer para quem pretendemos beneficiar. Nesses momentos procuramos ajuda e amparo de algo que nos é superior; muitas vezes em último recurso. Mas a vertente da oração que procurei com este estudo foi a de ligação; a de comunhão. Aquela que alcançamos quando nos abrimos ao Pai, com humildade, exibindo todos os nossos defeitos e virtudes; que ele tão bem conhece, mas que por vezes procuramos dissimular, com uma ou outra causa que nos desculpabilize ou atenue a atitude, maneira de ser ou de agir. Essa sinceridade, essa vontade de encarar cada dia da nossa vida como um dia de aulas numa escola que nos educa pela vivência, abre as portas ao contacto com uma força que nos fortalece e orienta, com suaves e subtis conselhos que levam à reflexão, nos amparam e incentivam a caminhada.



1. Prece e Meditação

No Livro dos Espíritos, Kardec indagou sobre a Prece formulando as seguintes questões :

659. Qual o caráter geral da prece?
“A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer.”

660. A prece torna melhor o homem?
“Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.”
a) - Como é que certas pessoas, que oram muito, são, não obstante, de mau caráter, ciosas, invejosas, impertinentes, carentes de benevolência e de indulgência e até, algumas vezes, viciosas?
“O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas supõem que todo o mérito está na longura da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Fazem da prece uma ocupação, um emprego do tempo, nunca, porém, um estudo de si mesmas. A ineficácia, em tais casos, não é do remédio, sim da maneira por que o aplicam.”

658. Agrada a Deus a prece?
“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo. Assim, preferível Lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-Lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade."

2. Importância da Prece

Um dirigente desta casa disse-me um dia, em conversa, algo que ressoou na minha alma. Uma frase bastante simples, dita em forma de desabafo, como se estivesse pensando alto e quase certo nem deu conta do efeito que em mim surtiu, ao ponto de não mais ter esquecido. Disse ele que : "A maior parte das pessoas senta-se à mesa para alimentar o corpo; mas não se senta para alimentar a alma". Ao ouvi-lo, algo entrou em mim e não mais saiu. Foi daquelas frases que se colam a nós e voltam de quando a quando para nos avivar a memória. De facto tão ou mais importante que alimentar o corpo é alimentar a alma. Mas esta vive de alimento mais subtil e embora a fonte esteja permanentemente acessível, para a alcançarmos necessitamos de disciplina, vigilância e força de vontade para não cairmos no engano de perguntar "Onde andavas senhor quando eu mais precisei?".

Na sua obra "Técnicas da Mediunidade" Carlos Torres Pastorino faz uma analogia entre um acumulador eléctrico e o ser humano e diz assim : "Cada criatura constitui um acumulador, capaz de armazenar a energia espiritual. Entretanto, essa energia pode esgotar-se. E se esgotará com facilidade, se houver “perdas” ou “saídas” dessa energia com explosões de raiva, ou com ressentimentos e mágoas prolongadas, embora não violentas. Cada vez que uma pessoa se aborrece ou irrita, dá “saída” à energia que mantinha acumulada, “descarrega” o acumulador de força (ou fluidos), diminui a carga e, portanto, se enfraquece, O segredo é manter-se inalterado e calmo em qualquer circunstância, mesmo nas tempestades morais e materiais mais atrozes.
Todavia, se por acaso o acumulador se descarrega, pode ser novamente carregado, por meio de exercícios de mentalização positiva e de PRECE em benefício dos outros, ou seja, prece desinteressada. Portanto, é realmente carregado com uma energia em direção oposta: se ficou negativo, carregar-se-á com energia positiva."

Fala-nos ainda da necessidade absoluta de mantermos a mente com pensamentos elevados para que nossas preces e emissões possam atingir os espíritos que se encontram em planos vibratórios superiores e diz-nos que "As ondas […] de pensamentos terrenos e baixos, circulam apenas pela superfície da Terra, atingindo somente os sofredores e involuídos, ou as próprias criaturas terrenas. Qualquer pensamento de tristeza ou ressentimento ou crítica baixa as vibrações, não deixando que nossas preces cheguem ao alvo desejado. Por isso disse Jesus: "Quando estiveres orando, se tiveres alguma coisa contra alguém, perdoa-lha (Mr. 11:25) e mais: se estiveres apresentando tua oferta no altar, e aí lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e depois vem apresentar tua oferta." (Mat.5:23-24)." (Técnicas da Mediunidade" de Carlos Torres Pastorino, Cap. Eletricidade)

Da obra "Momentos Enriquecedores" de Divaldo Pereira Franco, retirei o seguinte texto ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis, com o titulo "Terapia da Oração" :
"Recurso valioso para todo momento ou necessidade, a oração encontra-se ao alcance de quem deseja paz e realização, alterando para melhor os fatores que fomentam a vida e facultam o seu desenvolvimento […] A oração sincera, feita de entrega íntima a Deus, desenvolve a percepção de realidades normalmente não detectadas, que fazem parte do mundo extrafísico […] O ser material […] Desarticulando-se, ou sofrendo influências degenerativas, necessita de reparos nos intrincados mecanismos vibratórios, de modo a recompor-se, reequilibrar-se e manter a harmonia indispensável, para alcançar a finalidade a que se destina […] A oração induz à paz e produz estabilidade emocional, geradora de saúde integral. A mente que ora, sintoniza com as Fontes da Vida, enriquecendo-se de forças espirituais e lucidez. Terapia valiosa, a oração atrai as energias refazentes que reajustam moléculas orgânicas no mapa do equilíbrio físico, ao mesmo tempo que dinamiza as potencialidades psíquicas e emocionais, revigorando o indivíduo. […] O indivíduo é sempre o resultado dos pensamentos que elabora, que acolhe e que emite […] A mente que se vincula à oração ilumina-se sem desprender vitalidade, antes haurindo-a, e mais expandindo a claridade que possui. Envolvendo-se nas irradiações da oração a que se entregue, logrará o ser enriquecer-se de saúde, de alegria e paz, porquanto a oração é o instrumento poderoso pelo qual ele fala a Deus, e por cujo meio, inspirado e pacificado, recebe a resposta do Pai."

Termina dizendo "Ao lado, portanto, de qualquer terapia prescrita, seja a oração a de maior significado e a mais simples de ser utilizada." (Momentos Enriquecedores, Joanna de Ângelis por Divaldo Pereira Franco)

3. Forma da Prece

Em “O Evangelho segundo o Espiritismo” Kardec diz-nos que os Espíritos hão dito sempre: “A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque. Um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com as quais nada tenha o coração.”
Diz-nos ainda que “A qualidade principal da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos, que são meros adornos de lantejoulas. Cada palavra deve ter alcance próprio, despertar uma ideia, pôr em vibração uma fibra da alma. Numa palavra: deve fazer refletir. Somente sob essa condição pode a prece alcançar o seu objetivo; de outro modo, não passa de ruído." (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. 28)
No Evangelho de Mateus podemos ler : "E, orando, não faleis muito como os gentios; pois cuidam que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não queirais, portanto, parecer-vos com eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peças." (Mateus, 6:5-8.)

Numa análise mais científica da Prece, recorrendo novamente à obra "Técnicas da Mediunidade" Carlos Torres Pastorino explica que a ligação que se estabelece com a oração obedece ás mesmas leis físicas que se verificam numa corrente eléctrica. Como tal essa Corrente Pensamento pode ser também continua ou alterna. Diz-nos o autor que "Na prece, a corrente pode ser continua (geralmente o é), quando, apenas nós falamos (quase sempre pretendemos “ensinar” a Deus o que Ele deve fazer para nós...), e pode ser alternada quando, na prece verdadeira, pouco falamos, e depois silenciamos para “ouvir” a resposta silenciosa em nosso coração."

Diz também que “Quanto mais fortes e elevado os pensamentos, maior a frequência vibratória e menor o comprimento de onda". Ou seja, mais longe pode chegar o pensamento e explica que "O que eleva a frequência vibratória do pensamento é o amor desinteressado; baixa as vibrações tudo o que seja contrario ao amor: raiva, ressentimento, mágoa, tristeza, indiferença, egoísmo, vaidade, enfim qualquer coisa que exprima separação e isolamento."
"A prece não pode, científica e matematicamente, atingir os planos que desejamos, porque estamos “dissintonizados”. Não se trata de maldade ou “exigência” dos espíritos superiores. Mas não chega a eles nossa prece. Da mesma forma que um rádio só de “ondas curtas” não pode captar os sinais das “ondas longas” e vice-versa. Cada um (a ciência o comprova experimentalmente) só pode comunicar-se com seus afins em vibração."

Fazendo uma comparação de carácter mais científico, explica o que é designado em Física por Ondas Amortecidas e relaciona-as com as Ondas Pensamento por nós emitidas para salientar a importância que devemos dar ao tema. Explica que "Em física, estudamos as ONDAS AMORTECIDAS, assim chamadas porque atingem rapidamente um valor máximo de amplitude, mas também rapidamente decrescem, não se firmando em determinado sector vibratório. São produzidas por aparelhos de “centelha”, que intermitentemente despedem fagulhas, chispas, centelhas, mas não executam uma emissão regular e fixa em determinada faixa. Produzem efeito de “ruídos. No cérebro, ONDAS AMORTECIDAS são as produzidas por cérebros não acostumados à elevação, mas que, em momentos de aflição, proferem preces fervorosas. A onda se eleva rapidamente, mas também decresce logo a seguir, pois não tem condição para manter-se constantemente em nível elevado, por não estarem a ele habituados […]. De fato, produzem “ruídos”, mas não conseguem sustentar-se em alto nível, não atingindo pois, o objetivo buscado."

É por isso importante praticar, criar o hábito. Reservar parte do nosso dia para meditação e oração para que com a pratica sejamos cada vez mais capazes de no nosso dia a dia mesmo nas aflições diárias mantermos o pensamento elevado. Ou seja acima das faixas vibratórias mais pesadas. É difícil avaliar a importância da prece sem a praticarmos regularmente. Se não nos dispusermos a experiencia-la apenas podemos ter uma ideia remota do que a envolve. Está ao alcance de todos; se nos dispusermos a tal. Assim consigamos libertar-nos de tudo o que nos distrai e reclama atenção. Assim consigamos nos libertar de tudo o que ocupa o tão precioso espaço mental que precisamos para receber em nós o Pai. Para isso precisamos resolver os conflitos e preocupações que causam ruído e utilizam a energia que tanta falta nos faz. Há que aproveitar tudo o que nos cria aflição para o nosso crescimento. A tarefa é árdua. Diária. É uma luta constante. Mas a partir dessa altura deixamos de navegar à deriva. Passamos a ter um rumo, um propósito. Analisemos nossas aflições e tiremos delas a melhor lição. Esqueçamos o outro e encaremos-nos a nós próprios como base do problema. Tiremos-nos do altar em que muitas vezes nos colocamos e sejamos capazes de ver como realmente somos. Inicialmente causa-nos dor e revolta. Mas com o tempo, por cada imperfeição que descobrimos em nós, que está na base de um conflito, temos uma sensação de felicidade e de alivio. Como um ato de confissão. Com o tempo vemos que encarar nossas imperfeições é... uma libertação. E são tantas. Tão subtilmente disfarçadas. Há por isso tanto trabalho a fazer. Trabalho interior, de reflexão e análise. Quando nos dispusermos a abraçar essa tarefa, cada dia passa a ser na realidade uma lição. Uma lição de aceitação e amor por nós próprios; que com o tempo, creio eu, se estenderá em toda a sua plenitude, a todos que connosco convivem, quando assim o conseguirmos.

4. Experiência pessoal

Partilho convosco esta minha experiência porque tenho para mim que a partilha de experiências, sentimentos e emoções é a chave para uma verdadeira comunhão entre todos nós. Essa partilha faz-nos perceber que em essência somos todos muito semelhantes; faz-nos perceber que se mais pessoas travam as mesmas batalhas interiores é porque não estamos sós nesta caminhada e não somos o ser indigno que por vezes nos acreditamos. Podemos então seguir cada um na descoberta de si proprio sem complexos de inferioridade e sem receio de admitir pelo menos na nossa intimidade aquilo que realmente sentimos e somos. Sempre com o intuito de crescer e avançar, porque ao percebermos o que realmente somos podemos com mais consciência avançar no caminho que nos falta percorrer.

Jesus disse “Aqueles que sabem tudo, mas desconhecem a si próprios, são absolutamente carentes.” A prece ajuda na analise de nós próprios. Com a mente liberta de outras preocupações, de outros aliciantes, podemos serenamente pedir ajuda ao Pai. Costumo pedir que me ajude a conhecer-me a mim próprio. Que me dê a força que preciso para manter a disciplina necessária e que me ajude a conhecer e aproveitar os recursos internos que a todos facultou.

Ao dedicar parte do meu dia ao recolhimento, à oração e à escrita sinto que sou cada vez mais o responsável pela minha condição interna. Sinto que depende de mim "arregaçar as mangas" e assumir as lutas diárias que as vivências despertam no meu intimo. Sinto que sou o responsável pelo meu mundo interior. Ao orar, ao ligar-me com mais frequência à Grande Fonte de Energia, que está ao alcance de todos nós, noto que se torna mais fácil distinguir as atividades que prejudicam das que beneficiam. Cresceu em mim inclusivamente a força de vontade para abandonar as que me desequilibram em favor das que me potenciam. A minha disponibilidade para encarar as vivências do dia a dia aumentou substancialmente. Todos os dias peço ao Pai para me ajudar a ter força para continuar neste caminho, peço que me ajude a estar vigilante e ativo para que não volte a "baixar os braços".

Quando me recolho para orar, sento-me quieto. Respiro fundo e sinto o meu corpo imóvel. Por vezes, quando sinto vontade, simplesmente agradeço. Outras vezes de olhos abertos ou fechados, começo por pedir ao Pai aquilo que sinto que mais falta me faz, normalmente peço Força para me disciplinar e Força para me manter atento.

Raramente a minha condição interior é igual quando começo a orar. Por vezes consigo ficar quieto tanto fisica como mentalmente. Nessas situações em que estou com a mente num estado de tranquilidade, quase sem pensamentos, apenas fico em silêncio. A maior parte das vezes não é assim; sinto-me inundado de pensamentos ou de emoções. Quando estou irrequieto com alguma emoção faço por identifica-la e dou-lhe toda a minha atenção. Aprofundo-a, analiso-a sempre com tranquilidade e pedindo ao Pai o discernimento necessário para compreendê-la. Assim o faço até sentir o alivio da compreensão. Noutras vezes, quando estou inundado de pensamentos, seja de coisas que quero ou não quero fazer ou qualquer emoção que está a tomar conta de mim e não consigo entender nem ultrapassar, descobri com a prática que para mim, o melhor a fazer é transferir os meus pensamentos, ou melhor, substitui-los por outros. Deixo essa emoção para mais tarde e começo a pensar na minha escrita, nos temas que quero desenvolver ou em outro qualquer trabalho criativo que esteja a realizar. Fico assim até me sentir revitalizado. Termino agradeçendo a ajuda que me deram e volto aos meus afazeres. Normalmente, quando me é possivel, essa é para mim a melhor altura para escrever. Até porque nesse momento de recolhimento que descrevi recolho muito do que escrevo diárimente que me serve para reflexão.

Para terminar este trabalho quero dizer que tenho aprendido com a Prece que sou o grande responsável pela minha condição interna. O grande responsavel pela criação do meu mundo interior. Consigamos todos tomar as redeas do dia a dia e decidamos-nos a trabalhar com coragem e com a ajuda do Pai para que um dia possamos erigir em nós um grande monumento, sólido o bastante para que não desmorone ao menor abalo. Para que na adversidade possamos, um dia, ser um farol e um abrigo temporário para quem de nós necessite.

(Texto lido e debatido em reunião da AELA, na 3ª feira, 23 de Novembro de 2010)

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