sábado, 22 de agosto de 2009

ESPIRITISMO: OBJECTIVO PRINCIPAL E DOUTRINAÇÃO

Em tempo de férias, proponho um tema de reflexão que pode, eventualmente, ajudar a esclarecer algumas dúvidas sobre esta matéria. E se, ao invés, o texto suscitar novas perguntas, é sinal que cumpriu também a sua função como elemento do interesse em querer saber mais.

Filipe

Espiritismo: objectivo principal e doutrinação

«O objectivo principal do Espiritismo não é assistência material que se presta caridosamente aos necessitados; não é a cura de moléstias sempre úteis à purificação de corpo e espírito; nem tampouco a fenomenologia ostentada pelas sessões de efeitos físicos, nem a maioria dos actos e práticas realizados diariamente nas associações espíritas mas, sobretudo, a espiritualização, repetimos, a evangelização. Por isso é que Allan Kardec asseverou, de forma incisiva e inspirada "que se conhece o verdadeiro espírita pela transformação moral pela qual ele passa"; o homem velho, do passado, cheio de vícios, defeitos, paixões e impulsos animalizados, transmutando-se no homem novo, moralmente renovado, voltado agora para a vida virtuosa, preocupado com a conduta e as realizações próprias desse campo. Assim, pois, resumindo e repetindo, diremos que a finalidade principal do Espiritismo é a evangelização e o esclarecimento das almas, e que todas as demais modalidades ou aspectos do problema são secundários ou decorrentes. O processo mais viável e seguro de se atingir esse alto objectivo é, ainda e sempre, aquele que o Evangelho aponta: a renovação dos sentimentos para se obter, como consequência, a purificação de pensamentos e actos; em seguida, a conquista de virtudes morais que faltam a todos os seres humanos nos graus inferiores da evolução; e, por último, a busca do Reino de Deus, pelo uso e pela prática dessas virtudes no campo da vida social. Como não pode haver pureza espiritual em corpo poluído, é necessário, antes de mais nada, combater os vícios mais comuns, como sejam, o fumo, o alcoolismo, o jogo, a gula (aliás, para os passes individuais convém observar que só deve dar passes o médium que não for viciado em álcool e/ou fumo porque, nesses casos, transferirá para os doentes os venenos armazenados no seu próprio organismo); depois, as paixões mais generalizadas como a sensualidade, a avareza, a brutalidade, etc., como ainda os defeitos morais: orgulho, egoísmo, hipocrisia, maledicência, etc., travando contra eles luta tenaz e porfiada.
Relativamente ao trabalho prático numa sessão espírita: muitos espíritos desencarnados demoram longo tempo na inconsciência ou na readaptação. Para facilitar o seu despertar ou o seu esclarecimento, esses Espíritos são trazidos às sessões de doutrinação, e aí ligados, momentaneamente, a médiuns de incorporação para ajudar ao despertar e ao retomar o caminho do aperfeiçoamento espiritual. Doutrinar Espíritos não é tarefa fácil e exige conhecimentos doutrinários bastante desenvolvidos; por outro lado, é necessário possuir o doutrinador senso psicológico para poder captar com rapidez a verdadeira feição moral do caso que defronta e, em consequência, encaminhar a doutrinação no devido rumo; como também é necessário possuir paciência e bondade, humildade e tolerância, porque somente com auxílio destas virtudes, pode ele enfrentar os casos difíceis da doutrinação de Espíritos maldosos, zombeteiros e intelectuais empedernidos. A consulta a livros doutrinários não basta, porque eles não podem entrar em certos pormenores que pertencem ao trabalho prático, à experiência pessoal amadurecida com o tempo e com embate das diferentes modalidades que o problema apresenta. A doutrinação tem inúmeros aspectos e visa não somente Espíritos denominados sofredores, mas também Espíritos ignorantes que permanecem em esferas de embrutecimento; Espíritos maldosos que se devotam ao mal conscientemente; Espíritos intelectualmente desenvolvidos, mas que ainda não penetraram no caminho da redenção espiritual. Por outro lado, é preciso considerar que a doutrinação não pode ser imposta a poder de argumentos; é, preferentemente, uma colaboração de carácter evangélico em bem do próximo; os pontos de vista e os desejos dos Espíritos, salvo nos casos de inconsciência, devem ser respeitados porque o livre-arbítrio é sagrado. Assim, o Espírito que, sendo consciente e livre, recusa ou despreza a doutrinação, não deve ser forçado a ouvi-la ou ameaçado de represálias. Ao contrário, deve ser convidado a voltar noutra ocasião e, em seguida, despedido cordialmente não se perdendo mais tempo com ele ou estabelecendo discussões intermináveis e irritantes, que sempre acabam por diminuir a autoridade moral do doutrinador.
Este deve jogar a sua semente e esperar que ela germine no coração do visitante empedernido.»


Texto retirado de “Prática Mediúnica” de Edgard Armond (analisado na reunião da AELA do dia 3/02/2009)

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