terça-feira, 4 de maio de 2010

A lei humana e a lei de Deus

A lei humana atinge certas faltas e pune-as. Mas a lei incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem.
Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho recto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infracção da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis. Os sofrimentos decorrentes do erro são uma advertência do mal que fez. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que foi, para ele, fonte de mágoas, sem o que não teria nenhum motivo para se emendar. Confiante na impunidade, retardaria o seu avanço e, consequentemente, a sua felicidade futura.
Entretanto, não se deve acreditar que todo o sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas escolhidas pelo Espírito para concluir a sua depuração e apressar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito ter adquirido certo grau de elevação e, não obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual, se sair vitorioso, tanto mais recompensado será quanto mais penosa haja sido a luta. Trata-se, especialmente, dessas pessoas com instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parecem não ter trazido nada de mau das suas existências anteriores e que sofrem, com resignação cristã, as maiores dores, pedindo a Deus para suportá-las sem se queixarem. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus. É certo que o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas é indício de que foi escolhida voluntariamente e não imposta, sendo prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.
Algumas pessoas são de opinião que, estando-se na Terra para expiar, é preciso que as provas sigam o seu curso. Outros há, mesmo, que vão ao ponto de julgar que não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. É um grande erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus, mas conheceis vós esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando um dos vossos irmãos for atingido: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso colocou ao meu alcance para aliviar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou os meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer cessar esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, acabar com o mal e substituí-lo pela paz.” Ajudai-vos pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa ideia deve revoltar-se todo o homem de coração, principalmente todo o espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que toda a sua vida deve ser um acto de amor e de dedicação; que, faça ele o que fizer para contrariar as decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços para atenuar a amargura da expiação, sendo certo, porém, que só Deus pode acabar com ela ou prolongá-la, conforme julgar conveniente. Não seria um orgulho muito grande da parte do homem, considerar-se no direito de revirar, por assim dizer, a arma na ferida? De aumentar a dose do veneno no peito do que sofre, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Considerai-vos sempre como instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas todos, sem excepção, deveis esforçar-vos por amenizar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e de caridade.

Texto retirado de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec e debatido na reunião da AELA, na 3ª feira, dia 30 de Março de 2010

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