segunda-feira, 31 de maio de 2010

O engano de Chico Xavier

Chico Xavier nasceu em 1910 e os episódios aqui relatados acontecem quando Chico Xavier tinha 21 anos e os seus trabalhos de psicografia começavam a ganhar relevância.

"Lembro-me que, em 1931, numa das nossas reuniões habituais, vi, ao meu lado pela primeira vez, o bondoso espírito Emmanuel. Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro mediúnico recebido através das minhas humildes faculdades (Parnaso de Além-Túmulo) e experimentava os sintomas de grave moléstia dos olhos.
Via-lhe os traços fisionómicos de homem idoso, sentindo a minha alma envolvida na suavidade da sua presença. Mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim dentro de reflexos luminosos em forma de cruz.
Às minhas perguntas naturais respondeu o bondoso guia: – Descansa! Quando te sentires mais forte, pretendo colaborar igualmente na difusão da filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre os teus passos e só hoje me vês, na tua existência de agora, mas os nossos espíritos encontram-se unidos pelos laços mais santos da vida e o sentimento afectivo que me impele para o teu coração tem as suas raízes na noite profunda dos séculos.

No entanto Chico Xavier não deixa de lembrar que a postura de Emmanuel era implacável em todas as situações. Inclusive diante das dificuldades económicas por ele enfrentadas. Ele conta que, em 1939, um grupo de cientistas russos lhe fez uma oferta: convidaram-no a passar seis meses em Moscovo, com o fim de realizar testes sobre a sua mediunidade. A oferta parecia tentadora: "o dinheiro era suficiente para construir cinquenta casas populares. Uma fortuna para quem estava às voltas com a primeira de oito prestações de um novo chapéu" (Souto Maior, 1995: 56). Mas Emmanuel foi logo pondo fim às suas pretensões: "Se quiser, pode ir ­ disse ele ­ eu fico". Igualmente rigorosa foi a sua conduta em relação aos problemas de saúde do médium.
Chico Xavier, quando soube que os seus problemas de visão eram inoperáveis, decidiu consultar Emmanuel a esse respeito. "Tenha serenidade, [...] você está sob o cuidado dos benfeitores espirituais e sob a assistência de médicos atenciosos e amigos" (Barbosa, 1992 [1967]:, disse-lhe o espírito. "Quer dizer que preciso tratar-me?" (idem), perguntou Chico desapontado, acrescentando em seguida: "O senhor quer dizer que embora eu seja médium [...] não posso esperar a intervenção do Plano Espiritual em meu benefício para curar-me?" (idem).
Emmanuel retrucou: Por que você receberia privilégios por ser médium? [...] a condição de médium não o desobriga da necessidade de lutar e sofrer, em seu próprio benefício, como acontece às outras criaturas que estão no Plano Físico. (Idem)
Chico Xavier não se resignou de imediato. Perguntou como poderia desenvolver a tarefa de escrita dos livros espíritas, que apenas se iniciava, se a deficiência visual de que era portador lhe dificultava o trabalho. Disse-lhe o guia: "Confie no Senhor, pois sua doença é arrimo que ele enviou em seu auxílio". Chico alegrou-se imediatamente: "Então Jesus vai curar-me?" (idem).
Ele mesmo prossegue o relato: Emmanuel fitou-me [...] e mandou que eu abrisse “O Evangelho Segundo o Espiritismo” no capítulo VI [...]. Então comecei a ler em voz alta [...]. Quando atingi a palavra "aliviarei", o nosso Amigo Espiritual interrompeu-me a leitura e disse: "Compreendeu bem? Jesus não promete curar-nos, isto é, retirar-nos [...] das obrigações que nos cabe cumprir perante as leis de Deus mas promete aliviar-nos e auxiliar-nos”.


Texto de Sandra Jacqueline Stoll “Uma vida contada a muitas mãos” no site do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de S. Paulo em http://www.n-a-u.org/Stoll2.html, e debatido em reunião da AELA, na 3ª feira, 2 de Março de 2010

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