segunda-feira, 31 de maio de 2010

O engano de Chico Xavier

Chico Xavier nasceu em 1910 e os episódios aqui relatados acontecem quando Chico Xavier tinha 21 anos e os seus trabalhos de psicografia começavam a ganhar relevância.

"Lembro-me que, em 1931, numa das nossas reuniões habituais, vi, ao meu lado pela primeira vez, o bondoso espírito Emmanuel. Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro mediúnico recebido através das minhas humildes faculdades (Parnaso de Além-Túmulo) e experimentava os sintomas de grave moléstia dos olhos.
Via-lhe os traços fisionómicos de homem idoso, sentindo a minha alma envolvida na suavidade da sua presença. Mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim dentro de reflexos luminosos em forma de cruz.
Às minhas perguntas naturais respondeu o bondoso guia: – Descansa! Quando te sentires mais forte, pretendo colaborar igualmente na difusão da filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre os teus passos e só hoje me vês, na tua existência de agora, mas os nossos espíritos encontram-se unidos pelos laços mais santos da vida e o sentimento afectivo que me impele para o teu coração tem as suas raízes na noite profunda dos séculos.

No entanto Chico Xavier não deixa de lembrar que a postura de Emmanuel era implacável em todas as situações. Inclusive diante das dificuldades económicas por ele enfrentadas. Ele conta que, em 1939, um grupo de cientistas russos lhe fez uma oferta: convidaram-no a passar seis meses em Moscovo, com o fim de realizar testes sobre a sua mediunidade. A oferta parecia tentadora: "o dinheiro era suficiente para construir cinquenta casas populares. Uma fortuna para quem estava às voltas com a primeira de oito prestações de um novo chapéu" (Souto Maior, 1995: 56). Mas Emmanuel foi logo pondo fim às suas pretensões: "Se quiser, pode ir ­ disse ele ­ eu fico". Igualmente rigorosa foi a sua conduta em relação aos problemas de saúde do médium.
Chico Xavier, quando soube que os seus problemas de visão eram inoperáveis, decidiu consultar Emmanuel a esse respeito. "Tenha serenidade, [...] você está sob o cuidado dos benfeitores espirituais e sob a assistência de médicos atenciosos e amigos" (Barbosa, 1992 [1967]:, disse-lhe o espírito. "Quer dizer que preciso tratar-me?" (idem), perguntou Chico desapontado, acrescentando em seguida: "O senhor quer dizer que embora eu seja médium [...] não posso esperar a intervenção do Plano Espiritual em meu benefício para curar-me?" (idem).
Emmanuel retrucou: Por que você receberia privilégios por ser médium? [...] a condição de médium não o desobriga da necessidade de lutar e sofrer, em seu próprio benefício, como acontece às outras criaturas que estão no Plano Físico. (Idem)
Chico Xavier não se resignou de imediato. Perguntou como poderia desenvolver a tarefa de escrita dos livros espíritas, que apenas se iniciava, se a deficiência visual de que era portador lhe dificultava o trabalho. Disse-lhe o guia: "Confie no Senhor, pois sua doença é arrimo que ele enviou em seu auxílio". Chico alegrou-se imediatamente: "Então Jesus vai curar-me?" (idem).
Ele mesmo prossegue o relato: Emmanuel fitou-me [...] e mandou que eu abrisse “O Evangelho Segundo o Espiritismo” no capítulo VI [...]. Então comecei a ler em voz alta [...]. Quando atingi a palavra "aliviarei", o nosso Amigo Espiritual interrompeu-me a leitura e disse: "Compreendeu bem? Jesus não promete curar-nos, isto é, retirar-nos [...] das obrigações que nos cabe cumprir perante as leis de Deus mas promete aliviar-nos e auxiliar-nos”.


Texto de Sandra Jacqueline Stoll “Uma vida contada a muitas mãos” no site do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de S. Paulo em http://www.n-a-u.org/Stoll2.html, e debatido em reunião da AELA, na 3ª feira, 2 de Março de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Passes: uma reflexão sobre quem os faz e quem os recebe

Referindo-se à preparação para trabalhos de efeitos físicos eis como André Luiz se manifesta: “Alguns encarnados, como habitualmente acontece, não tomavam a sério a responsabilidade do assunto e traziam consigo emanações tóxicas, oriundas da nicotina, da carne e aperitivos, além das formas de pensamentos menos adequados à tarefa que o grupo devia realizar.”
Como se vê, ele demonstra que a carne é alimento tão tóxico e desaconselhável quanto o fumo ou o álcool. E não se trata de uma opinião pessoal, mas, sim, da indicação de efeitos reais observados directamente do lado de lá, por observador altamente credenciado. Isto exige que os operadores encarnados, tanto quanto possível, tenham boa saúde, sejam sóbrios na alimentação, no vestuário, nos costumes e altamente moralizados; que eliminem vícios, evitem tóxicos, inclusive os provindos de seus próprios organismos e aprendam a dominar suas emoções, para evitar a perda inútil de energia fluídica.
Por parte do doente ou do operador, haverá possibilidade mais ampla de permuta de fluidos bons e maus, sendo comuns os casos de transmissão de fluidos mórbidos do doente para o operador e vice-versa. Este último, além dos fluidos de cura, transmitirá com os passes, toxinas orgânicas ou medicamentosas e ainda mais: produtos vindos da esfera moral, das suas próprias paixões inferiores que, porventura, constituam a sua natural tonalidade vibratória. São muito comuns os casos de doentes submetidos a passes, dados por servidores sinceros e de boa vontade que, todavia, sentem, após a aplicação, inexplicável agravamento dos seus males, ou o acréscimo de novos, acompanhados de visível mal-estar que, justamente, resultam dessas impurezas a que nos referimos. Para dar passes, pois, não basta a boa vontade; é necessário também que o operador preencha uma série de condições físicas e psíquicas, tendentes à purificação de corpo e espírito. Conquanto seja certo que a boa vontade e o desejo evangélico de servir assegurem ao operador um grande coeficiente de assistência espiritual superior, todavia, a preparação judiciosa, pela purificação própria, aumentará grandemente a eficiência do trabalho.
No plano invisível, nas suas colónias, recolhimentos, hospitais e abrigos provisórios, os passes são dados ampla e sistematicamente, porém, sempre executados por operadores seleccionados, verdadeiros técnicos, profundos conhecedores do assunto, tanto na teoria como na prática. Eis o que diz Emmanuel [em “Segue-me!...” ] … :“Meu amigo, o passe é transfusão de energias fisiopsíquicas, operação de boa vontade, dentro da qual o companheiro do bem cede de si mesmo em teu beneficio. Se a moléstia, a tristeza e a amargura são remanescentes das nossas imperfeições, enganos e excessos, importa considerar que, no serviço do passe, as tuas melhoras resultam da troca de elementos vivos e actuantes. Trazes detritos e aflições e alguém te confere recursos novos e bálsamos reconfortantes. No clima da prova e da angústia, és portador da necessidade e do sofrimento. Na esfera da prece e do amor, um amigo converte-se no instrumento da Infinita Bondade, para que recebas remédio e assistência. Ajuda o trabalho de socorro a ti mesmo com o esforço da limpeza interna. Esquece os males que te apoquentam, desculpa as ofensas de criaturas que te não compreendem, foge ao desânimo destrutivo e enche-te de simpatia e entendimento para com todos os que te cercam. O mal é sempre a ignorância e a ignorância reclama perdão e auxilio para que se desfaça, em favor da nossa própria tranquilidade. Se pretendes, pois, guardar as vantagens do passe que, em substância, é acto sublime de fraternidade cristã, purifica o sentimento e o raciocínio, o coração e o cérebro.

Texto retirado de “Passes e Radiações” de Edgard Armond e debatido em reunião da AELA, 3ª feira, 25 de Maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Esquecimento do Passado e O Pensamento

Infelizmente objecta-se que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da experiência de vidas anteriores.
Se Deus considerou conveniente lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.
Frequentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo, de novo, relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes fez. Se reconhecesse nelas as pessoas a quem odiara, talvez o ódio reaparecesse. De qualquer modo, sentir-se-ia humilhado em presença daquelas a quem tivesse ofendido.
Para nos melhorarmos, deu-nos Deus, precisamente, o que necessitamos e o que nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas, tirando-nos o que nos poderia prejudicar.
Ao nascer, o homem, em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi: se é punido, é porque praticou o mal. As suas más tendências actuais indicam o que lhe falta corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar toda a sua atenção, porquanto, do que foi completamente corrigido, não resta nenhum vestígio. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às tentações. Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corporal. Voltando à vida espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; trata-se, portanto, duma interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não nos impede de lembrar, ao acordarmos no dia seguinte, o que se fez na véspera e nos dias anteriores.
E não é somente após a morte que o Espírito readquire a lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência dos seus actos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exacta, que lhe poderia ser penosa e prejudicá-lo nas suas relações sociais, ele adquire forças novas nesses instantes de emancipação da alma, se souber aproveitá-los.
À medida que a alma avança na vida espiritual, esclarece-se e liberta-se pouco a pouco das suas imperfeições, conforme o grau de boa vontade que empregue, em virtude do seu livre-arbítrio. Todo o mau pensamento resulta, pois, da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que possui de se melhorar, até mesmo esse mau pensamento se torna uma ocasião de progresso, porque ela o repele com energia. É o sinal duma mancha que ela se esforça para fazer desaparecer. Não cederá à tentação de satisfazer um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e feliz com a sua vitória.
Aquela que, ao contrário, não tomou boas resoluções, ainda procura ocasião de praticar o mau acto e, se não o praticar, não é por efeito da sua vontade, mas por falta de ocasião. É, pois, tão culpada como se o tivesse cometido.
Em resumo, aquele que não concebe a ideia do mal, já progrediu; aquele a quem essa ideia acode, mas que a repele, está próximo de alcançar progresso; aquele, finalmente, que pensa no mal e nesse pensamento se compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua força. Num, o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é justo, leva em conta todas essas diferenças ao responsabilizar o homem pelos seus actos e pensamentos.

Texto de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e debatido na reunião da AELA, 3ª feira, em 16 de Março de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Evocação e Invocação

Li, recentemente, num site espírita, o seguinte: «Devemos pedir aos bons espíritos para nos assistirem através da evocação indirecta, ou seja, somente por uma prece direccionada aos nossos mentores e guias.»

Relativamente a este modo de designar a prece por evocação indirecta, vejamos o que diz a doutrina espírita:

«INVOCAÇÃO (do latim in, em e vocare, chamar). EVOCAÇÃO (do latim vocare e e ou ex, de, fora de). As duas palavras não são sinónimos perfeitos; embora tenham a mesma raiz vocare: chamar, é um erro empregar uma pela outra. Segundo a definição académica “Evocar é chamar, fazer vir a si, fazer aparecer através de cerimónias mágicas, de encantamentos. Evocar almas, Espíritos, sombras. Os necromantes pretendiam evocar as almas dos mortos”. Antigamente, evocar era fazer sair as almas dos Infernos para que viessem até nós. Invocar é chamar para si, ou em seu socorro, um poder superior ou sobrenatural. Invoca-se a Deus pela oração. Na religião católica invocam-se os Santos. Toda a oração é uma invocação. A invocação está no pensamento; a evocação é um acto. Na invocação o ser a quem nos dirigimos ouve-nos; na evocação ele sai de onde se achava e vem manifestar-nos a sua presença.
A invocação apenas se dirige aos seres que supomos suficientemente elevados para nos assistir; a evocação dirige-se tanto aos Espíritos inferiores como aos superiores. … … …
A arte das evocações remonta à mais alta antiguidade. Encontramo-la em todas as épocas e em todos os povos.* Outrora a evocação era acompanhada de práticas místicas, ou porque as considerassem necessárias, ou porque, e é o mais provável, quisessem exibir o prestígio de um poder superior. Hoje sabemos que o poder de evocar não é um privilégio, pertence a todos, e que todas as cerimónias mágicas e cabalísticas nada mais eram que vão aparato.» – Allan Kardec

«–É aconselhável a evocação directa de determinados Espíritos?
-Não somos dos que aconselham a evocação directa e pessoal, em caso algum.
Se essa evocação é passível de êxito, a sua exequibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual. Daí a necessidade de sermos espontâneos, porquanto, no complexo dos fenómenos espíritas, a solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem-intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de acordo com a necessidade da sua posição evolutiva e segundo o merecimento do seu coração.
Podereis objectar que Allan Kardec se interessou pela evocação directa, procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidade de méritos ainda distantes da esfera de actividade dos aprendizes comuns.» – Emmanuel

Texto retirado de “Instrução Prática das Manifestações Espíritas”, Paris, 1858 **
e de “O Consolador” de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier
Texto debatido na reunião da AELA, 3ª feira, em 11 de Maio de 2010

*Na Bíblia é normalmente referida a passagem em que Saul consulta a vidente de En-Dor - 1Sm. 28, 7-22 (curiosamente, a edição da Difusora Bíblica de 2001, usa o termo invocar na tradução desta passagem). No entanto há outras referências como, por exemplo, no 2º Livro dos Reis, cap. 22, 14-20, em que o Rei Josias, após ouvir a leitura do Livro da Lei, manda um sacerdote (e mais quatro pessoas da sua confiança) consultar a profetisa Hulda que vivia em Jerusalém.

**Kardec publicou a 1ª edição de “O Livro dos Espíritos” em 1857. Essa 1ª edição continha 501 itens, em 3 partes. A 2ª edição, em 1860, continha 1019 itens, em 4 partes.
Após a edição de “O Livro dos Médiuns", em 1861, Kardec deixou de publicar o opúsculo "Instruction Pratique Sur Les Manifestations Spirites".

sábado, 8 de maio de 2010

Psicólogo e neurocientista Júlio Peres fala sobre a quase morte





O desafio do centro espírita

Richard Simonetti

1 – O centenário do nascimento de Chico Xavier levou a Doutrina Espírita para a mídia, com intensidade inimaginável. Nunca se falou tanto de Espiritismo nos órgãos de comunicação. Como você vê essa exposição em termos de economia para o movimento?
Sem dúvida, algo muito positivo. Sem irreverência, diria que mesmo depois de “morto” Chico continua fazendo pelo movimento espírita mais do que todos os espíritas juntos. O problema é “capitalizar” esse benefício.

2 – O que seria essa “capitalização”?
Fazer repercutir essa exposição na mídia em dinamização do Espiritismo no Brasil, a partir de pessoas que se interessem pelos seus princípios e se integrem no Centro Espírita, a célula básica.

3 – Qual a dificuldade maior nesse sentido?
As limitações das casas espíritas. Um data show, um boletim informativo, uma biblioteca, uma livraria, um clube do livro espírita, palestras bem fundamentadas, serviço de atendimento fraterno e passes magnéticos, cursos de Espiritismo, reuniões mediúnicas com observância dos princípios doutrinários, tudo isso é básico para acolher as pessoas que hoje nos procuram. 

4 – Considerando que a maior parte dos Centros Espíritas é de pequeno porte, com poucos colaboradores, não seria exigir demais de seus dirigentes?
Não estamos confundindo efeito com causa? Não será o Centro pequeno por falta de iniciativa dos dirigentes? 

5 – A que atribuir essa falta de iniciativa?
Um sacerdote católico estuda no mínimo quinze anos no seminário para ordenar-se; algo semelhante com os pastores protestantes das igrejas tradicionais. Aprendem a falar em público, a administrar a igreja, a motivar os fiéis… No movimento espírita, alguém entusiasma-se com práticas mediúnicas, funda um Centro Espírita, constrói uma sede, não raro com seus próprios recursos, e torna-se presidente vitalício, sem nenhum preparo para o cargo, sem conhecimento doutrinário, sem noções de administração de uma casa espírita. Resultado: estagnação.

6 – Uma escola para dirigentes não desembocaria no profissionalismo religioso, contrário aos princípios doutrinários?
A ideia não é uma escola para dirigentes, mas que os dirigentes frequentem a escola, isto é, que estejam sempre atentos à necessidade do estudo, do aprimoramento de sua atuação, da frequência aos cursos hoje ministrados pelos órgãos de unificação, empenhados em oferecer aos dirigentes a orientação necessária para que realizem um bom trabalho.

7 – O que pode ser feito?
Em primeiro lugar, superar a pretensão da autossuficiência. Geralmente dirigentes assim sentem-se meio “donos da verdade”, recusando-se a admitir suas próprias limitações. Tendem a centralizar tudo em suas mãos, nada fazem e nada deixam fazer, “ancorando” o “barco”. O dirigente deve ser um “leme”, estabelecendo as diretrizes gerais, conforme a orientação doutrinária, e deixando os companheiros navegarem ao influxo de suas iniciativas.

8 – E como transformar o âncora em leme?
Está sendo lançado pela CEAC-Editora, de Bauru, meu livro Por uma vida melhor, onde, a par de algumas reflexões sobre os caminhos que nos levam a uma existência saudável e feliz, e, sem pretender “falar de cátedra”, ofereço aos confrades algumas sugestões para que o Centro Espírita cumpra suas funções de divulgação doutrinária e ajuda aos necessitados de todos os matizes.


Fonte: Revista Internacional de Espiritismo – Maio de 210

terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma reflexão

A respeito da próxima vinda do Papa Bento XVI a Portugal e das imagens que as televisões já vão passando das várias manifestações de crentes, ocorrem-me vários pensamentos, tais como:
As procissões
Os sacrifícios com vista à obtenção de algo. Uma cura, qualquer benefício.
Ou em agradecimento.
E vão de joelhos ou a pé ou arrastam-se pelo chão.
Durante uma procissão carregam o peso em velas e acabam exaustos.
Um verdadeiro rol de sacrifícios
Acredito que, quem os faz fá-lo com a melhor das intenções.
E sofre pois, como podemos observar estas formas de deslocação são extremamente penosas, feitas em percursos de certa forma extensos e muitas vezes por pessoas de pouca condição física.
Mas será que o sofrimento físico infligido com qualquer dos objectivos apontados, agradecimento ou pedido, tem razão de ser? Tem lógica?
Mesmo considerando que nada é por acaso…!
Este tipo de sofrimento é o efeito de uma qualquer causa em resultado de uma expiação por um acto passado qualquer, e a que a pessoa consciente e voluntariamente se submete?
Julgo que não.
Se tem algum sentido prometer um sacrifício, se for concedido algo que se pede, com certeza que, se não for obtido não se fará o sacrifício. Será que isto contribui para o engrandecimento espiritual?
Não será negócio?!
Assim como um individuo auto-flagelar-se; qual o objectivo deste sofrimento?
Não quero nem pretendo julgar seja quem for, mas efectivamente não entendo.
Menos percebo quando uma instituição como a Igreja como que incentiva estes procedimentos, não aconselhando os crentes a que o façam, pois parece já não acontecer, mas referenciando de algum modo quem o faz.
Ou visto de outra forma, serão estas manifestações actos de amor?
A ser assim estamos então perante as duas faces da mesma moeda: o amor e o sofrimento.
Mas estes sofrimentos são voluntários.
Vejamos o que nos diz o Livro dos Espíritos na pergunta
726. Se os sofrimentos deste mundo nos elevam, conforme os suportarmos, poderemos elevar-nos pelos que criamos voluntariamente?
- Os únicos sofrimentos que elevam são os naturais, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários não servem para nada, quando nada valem para o bem dos outros.

Por que não trabalham, antes, em favor dos seus semelhantes? Que vistam o indigente, consolem o que chora, trabalhem pelo que está enfermo, sofram privações para o alíveo dos infelizes e então sua vida será útil e agradável a Deus. Quando nos sofrimentos voluntários a que se sujeita o homem não tem em vista senão a si mesmo, trata-se de egoísmo; quando alguém sofre pelos outros pratica a caridade; são esses os preceitos de Cristo

A lei humana e a lei de Deus

A lei humana atinge certas faltas e pune-as. Mas a lei incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem.
Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho recto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infracção da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis. Os sofrimentos decorrentes do erro são uma advertência do mal que fez. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que foi, para ele, fonte de mágoas, sem o que não teria nenhum motivo para se emendar. Confiante na impunidade, retardaria o seu avanço e, consequentemente, a sua felicidade futura.
Entretanto, não se deve acreditar que todo o sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas escolhidas pelo Espírito para concluir a sua depuração e apressar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito ter adquirido certo grau de elevação e, não obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual, se sair vitorioso, tanto mais recompensado será quanto mais penosa haja sido a luta. Trata-se, especialmente, dessas pessoas com instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parecem não ter trazido nada de mau das suas existências anteriores e que sofrem, com resignação cristã, as maiores dores, pedindo a Deus para suportá-las sem se queixarem. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus. É certo que o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas é indício de que foi escolhida voluntariamente e não imposta, sendo prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.
Algumas pessoas são de opinião que, estando-se na Terra para expiar, é preciso que as provas sigam o seu curso. Outros há, mesmo, que vão ao ponto de julgar que não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. É um grande erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus, mas conheceis vós esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando um dos vossos irmãos for atingido: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso colocou ao meu alcance para aliviar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou os meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer cessar esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, acabar com o mal e substituí-lo pela paz.” Ajudai-vos pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa ideia deve revoltar-se todo o homem de coração, principalmente todo o espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que toda a sua vida deve ser um acto de amor e de dedicação; que, faça ele o que fizer para contrariar as decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços para atenuar a amargura da expiação, sendo certo, porém, que só Deus pode acabar com ela ou prolongá-la, conforme julgar conveniente. Não seria um orgulho muito grande da parte do homem, considerar-se no direito de revirar, por assim dizer, a arma na ferida? De aumentar a dose do veneno no peito do que sofre, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Considerai-vos sempre como instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas todos, sem excepção, deveis esforçar-vos por amenizar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e de caridade.

Texto retirado de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec e debatido na reunião da AELA, na 3ª feira, dia 30 de Março de 2010

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