terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Allan Kardec - Da Reencarnação


«Em suas novas existências conservará o Espírito traços do carácter moral de suas existências anteriores?
« - Isso pode dar-se. Mas, melhorando-se, ele muda. Pode também acontecer que sua posição social venha a ser outra. Se de senhor passa a escravo, inteiramente diversos serão os seus gostos e dificilmente o reconheceríeis. Sendo o Espírito sempre o mesmo nas diversas encarnações, podem existir certas analogias entre as suas manifestações, se bem que modificadas pelos hábitos da posição que ocupe, até que um aperfeiçoamento notável lhe haja mudado completamente o carácter, porquanto, de orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e bondoso, se se arrependeu.
«E do carácter físico de suas existências pretéritas conserva o Espírito traços nas suas existências posteriores?
« - O novo corpo que ele toma nenhuma relação tem com o que foi anteriormente destruído. Entretanto, o Espírito se reflecte no corpo. Sem dúvida que este é unicamente matéria, porém, nada obstante, se modela pelas capacidades do Espírito, que lhe imprime certo cunho, sobretudo ao rosto, pelo que é verdadeiro dizer-se que os olhos são o espelho da alma, isto é, que o semblante do indivíduo lhe reflecte de modo particular a alma. Assim é que uma pessoa excessivamente feia, quando nela habita um Espírito bom, criterioso, humanitário, tem qualquer coisa que agrada, ao passo que há rostos belíssimos que nenhuma impressão te causam, que até chegam a inspirar-te repulsão. Poderias supor que somente corpos bem moldados servem de envoltório aos mais perfeitos Espíritos, quando o certo é que todos os dias deparas com homens de bem, sob um exterior disforme. Sem que haja pronunciada parecença, a semelhança dos gostos e das inclinações pode, portanto, dar lugar ao que se chama um ar de família.
«Nenhuma relação essencial guardando o corpo que a alma toma numa encarnação com o de que se revestiu em encarnação anterior, visto que aquele lhe pode vir de procedência muito diversa da deste, fora absurdo pretender-se que, numa série de existências, haja uma semelhança que é inteiramente fortuita.
«Todavia, as qualidades do Espírito frequentemente modificam os órgãos que lhe servem para as manifestações e lhe imprimem ao semblante físico e até ao conjunto de suas maneiras um cunho especial. É assim que, sob um envoltório corporal da mais humilde aparência, se pode deparar a expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob um envoltório de aspecto senhoril se percebe frequentemente a da baixeza e da ignomínia.
«Não é pouco frequente observar-se que certas pessoas, elevando-se da mais ínfima posição, tomam sem esforços os hábitos e as maneiras da alta sociedade. Parece que elas aí vêm a achar-se de novo no seu elemento. Outras, contrariamente, apesar do nascimento e da educação, se mostram sempre deslocadas em tal meio. De que modo se há-de explicar esse facto, senão como reflexo daquilo que o Espírito foi antes?»

Allan Kardec, O LIVRO DOS ESPÍRITOS, pt. II, cap. IV - §216-217

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